Autor:
Sidney Santborg
Num estalar de dedos, eu apareci em um lugar diferente...
Estava
percorrendo uma estrada sinuosa, onde o asfalto estava molhado e escorregadio.
Contudo, isso não atrapalhava o percurso, pois eu estava flutuando... Em
determinados momentos, parecia sobrevoar como um desses heróis do cinema, só
que com o corpo rente ao asfalto, porém não chegava a tocar o solo.
E
assim seguia sozinho, como se tivesse que chegar a algum lugar específico e
aquela estrada iria me conduzir...
Quando
de repente passou por mim uma garotinha de bicicleta, tinha no máximo três
anos de idade; e sua bicicletinha era como um triciclo para levá-la com
segurança. Ela estava em velocidade constante, mas quando passou por mim, me
cumprimentou, chamou pelo meu nome e me fez uma pergunta que não consegui
compreender. Porque estávamos indo em direções opostas e por estarmos em
movimento, rapidamente nos afastamos e não pude responder. Tentei parar, mas
não consegui... Pedi que ela repetisse a pergunta, contudo, novamente não consegui
entender... Era como se ela estivesse falando em códigos, que naquele momento não
podiam ser decifrados por mim, todavia, percebi que ela estava querendo me
ajudar.
Então,
disposto a saber o que aquela garotinha queria dizer, eu estendi minhas mãos ao
chão e tentei parar, mas no momento em que toquei o chão, perdi minha
capacidade de flutuar... Achei que conseguiria voltar, mas ao tentar subir, não
consegui... Tinha perdido o impulso, meus pés estavam pesados, pareciam estar presos
ao chão. Não conseguia me movimentar mais e a garotinha já havia sumido.
Diante
do que havia acontecido, fiquei um pouco assustado, não conseguia compreender
aquilo. Fechei os olhos para tentar me acalmar e senti algo se aproximando, não
cheguei a ver o que era, mas percebi que não eram amigáveis, pois tinha uma
força superior que parecia soprar a minha mente.
A
sensação de perigo estava aumentando e comecei a me desesperar, estava realmente
preso ao chão; tentava tomar impulso pra voltar a flutuar, mas não conseguia...
O desespero tomou conta de mim quando percebi uma poeira negra vindo em minha
direção, estava aflito, pois existia uma certeza que se aquilo se aproximasse
um pouco mais, eu seria consumido.
Então,
percebendo que não haveria outra coisa a fazer estendi minhas mãos para alto,
como uma criança pedindo ao seu pai para tirá-la do berço. Clamei a Deus para
me tirar daquela situação. Nesse
momento, vi as nuvens se abrindo e do céu apareceram imensas fitas, que eram
brancas e brilhavam como pérolas... Tentei alcançá-las, mas não conseguia...
Depois de três tentativas consegui, justamente no momento em que a poeira negra
chegou. As fitas me puxaram e pude sair daquele local com segurança.
Já
estava flutuando quando olhei para baixo e percebi que aquela poeira negra, era
formada por figuras indefinidas, mas pareciam pessoas presas em uma névoa, que
tinham o objetivo de capturar todos que pudessem alcançar.
Aquelas
fitas celestiais me impulsionaram e me deram uma espécie de força, recuperei
minha capacidade de antes e do alto vendo aquela névoa negra me acompanhando,
como se esperasse a minha queda, resolvi seguir a orientação vinda do céu.
Então, apontei para baixo e uma energia azul saiu das minhas mãos e foi
dissipando toda aquela poeira negra até sumir por completo.
Depois
disso, pude perceber de novo aquela estrada que eu seguia. Agora ela me pareceu
diferente; sem dúvidas já não estava tão escorregadia e a direção também havia
mudado, pois antes eu estava na direção oposta, seguindo o caminho contrário.
Talvez aquela garotinha tivesse tentando me avisar... Infelizmente não consegui
compreender.
Continuei
meu novo percurso, parecia tudo diferente e tranquilo, quando me apareceram
novamente figuras estranhas, agora pude perceber como eram... Pareciam soldados
medievais vindo com um objetivo de guerrear. Estavam no meu caminho, querendo
me parar, pois estavam guardando uma ponte que dava acesso a uma grande cidade.
Confesso que fiquei apreensivo, pois estava flutuando a uma altura que não
podia evitar o confronto. Mesmo assim, resolvi continuar... Sem medo fui a sua
direção, pois era importante enfrentar aquilo, parecia até uma loucura, porém,
sabia que tinha que continuar.
Quando
me aproximei, eles apontaram suas lanças e fizeram um paredão para me deter,
mas novamente me apareceram aquelas fitas brancas do céu e me puxaram para uma
altura superior e pude sobrevoar por cima de suas cabeças. Eles chegaram a
jogar suas lanças, mas não me atingiram, pois as fitas juntas formavam uma
espécie de escudo protetor energizado, com a mesma energia azul que dissipou a
névoa negra.
Quando
ultrapassei essa barreira de soldados, percebi que a ponte era muito grande e era
como uma fronteira, separando os dois mundos. As águas que passavam sob ela eram
diferentes, pois até o meio da ponte tinha uma cor escura e fétida, do meio em
diante às águas se tornavam quase transparente, tão límpida que se podia ver
os peixinhos nadando.
Continuei
o percurso e ao final daquela longa ponte cheguei a uma grande cidade, logo
percebi que ganhava altura a cada momento que as construções iam aparecendo. Em
determinados momentos eu estava sobrevoando prédios altíssimos, em outros
momentos estava sobre prédios menores... E assim eu seguia, passando por toda
a cidade e vislumbrando toda a beleza daquela experiência.
Quando
de repente, adentrei uma grande sala branca, me senti aflito por estar preso,
sobrevoava os móveis, mas meu corpo tocava em alguns objetos; tentava me
esquivar para não tocar nas coisas, porém elas caíam e quebravam. Senti medo,
pois fazia muito barulho os objetos quebrando no chão. Então, senti uma porta
se abrindo... Tentei fugir... Procurei uma janela para sair, mas a única saída
era aquela porta que se abria. E nesse momento, uma luz forte vinha lá de fora,
ofuscando minha vista...
Então,
apreensivo fiquei aguardando. Quando ela se abriu por completo apareceu um
casal, não os conhecia, mas senti algo em meu coração. Eles estenderam as mãos
para mim e pude segurá-las. Nesse momento tive a certeza que aquelas mãos eram
de pessoas que eu conhecia. Eles me puxaram e eu passei pelo Portal da Vida,
onde o casal estava. Então, nasci para o mundo real. E quando cheguei, para
minha surpresa, encontrei aquela garotinha da bicicleta, que me deu um breve
sorriso e disse: Cheguei primeiro que você.
Papai e mamãe estavam aflitos por causa de sua demora. Bem-vindo meu irmão!
muito bom!!!! bem criativo.
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