domingo, 16 de dezembro de 2012

Portal da Vida

Conto: PORTAL DA VIDA
Autor: Sidney Santborg

Num estalar de dedos, eu apareci em um lugar diferente...
Estava percorrendo uma estrada sinuosa, onde o asfalto estava molhado e escorregadio. Contudo, isso não atrapalhava o percurso, pois eu estava flutuando... Em determinados momentos, parecia sobrevoar como um desses heróis do cinema, só que com o corpo rente ao asfalto, porém não chegava a tocar o solo.
E assim seguia sozinho, como se tivesse que chegar a algum lugar específico e aquela estrada iria me conduzir...
Quando de repente passou por mim uma garotinha de bicicleta, tinha no máximo três anos de idade; e sua bicicletinha era como um triciclo para levá-la com segurança. Ela estava em velocidade constante, mas quando passou por mim, me cumprimentou, chamou pelo meu nome e me fez uma pergunta que não consegui compreender. Porque estávamos indo em direções opostas e por estarmos em movimento, rapidamente nos afastamos e não pude responder. Tentei parar, mas não consegui... Pedi que ela repetisse a pergunta, contudo, novamente não consegui entender... Era como se ela estivesse falando em códigos, que naquele momento não podiam ser decifrados por mim, todavia, percebi que ela estava querendo me ajudar.
Então, disposto a saber o que aquela garotinha queria dizer, eu estendi minhas mãos ao chão e tentei parar, mas no momento em que toquei o chão, perdi minha capacidade de flutuar... Achei que conseguiria voltar, mas ao tentar subir, não consegui... Tinha perdido o impulso, meus pés estavam pesados, pareciam estar presos ao chão. Não conseguia me movimentar mais e a garotinha já havia sumido.
Diante do que havia acontecido, fiquei um pouco assustado, não conseguia compreender aquilo. Fechei os olhos para tentar me acalmar e senti algo se aproximando, não cheguei a ver o que era, mas percebi que não eram amigáveis, pois tinha uma força superior que parecia soprar a minha mente.
A sensação de perigo estava aumentando e comecei a me desesperar, estava realmente preso ao chão; tentava tomar impulso pra voltar a flutuar, mas não conseguia... O desespero tomou conta de mim quando percebi uma poeira negra vindo em minha direção, estava aflito, pois existia uma certeza que se aquilo se aproximasse um pouco mais, eu seria consumido.
Então, percebendo que não haveria outra coisa a fazer estendi minhas mãos para alto, como uma criança pedindo ao seu pai para tirá-la do berço. Clamei a Deus para me tirar daquela situação.  Nesse momento, vi as nuvens se abrindo e do céu apareceram imensas fitas, que eram brancas e brilhavam como pérolas... Tentei alcançá-las, mas não conseguia... Depois de três tentativas consegui, justamente no momento em que a poeira negra chegou. As fitas me puxaram e pude sair daquele local com segurança.
Já estava flutuando quando olhei para baixo e percebi que aquela poeira negra, era formada por figuras indefinidas, mas pareciam pessoas presas em uma névoa, que tinham o objetivo de capturar todos que pudessem alcançar.
Aquelas fitas celestiais me impulsionaram e me deram uma espécie de força, recuperei minha capacidade de antes e do alto vendo aquela névoa negra me acompanhando, como se esperasse a minha queda, resolvi seguir a orientação vinda do céu. Então, apontei para baixo e uma energia azul saiu das minhas mãos e foi dissipando toda aquela poeira negra até sumir por completo.
Depois disso, pude perceber de novo aquela estrada que eu seguia. Agora ela me pareceu diferente; sem dúvidas já não estava tão escorregadia e a direção também havia mudado, pois antes eu estava na direção oposta, seguindo o caminho contrário. Talvez aquela garotinha tivesse tentando me avisar... Infelizmente não consegui compreender.
Continuei meu novo percurso, parecia tudo diferente e tranquilo, quando me apareceram novamente figuras estranhas, agora pude perceber como eram... Pareciam soldados medievais vindo com um objetivo de guerrear. Estavam no meu caminho, querendo me parar, pois estavam guardando uma ponte que dava acesso a uma grande cidade. Confesso que fiquei apreensivo, pois estava flutuando a uma altura que não podia evitar o confronto. Mesmo assim, resolvi continuar... Sem medo fui a sua direção, pois era importante enfrentar aquilo, parecia até uma loucura, porém, sabia que tinha que continuar.
Quando me aproximei, eles apontaram suas lanças e fizeram um paredão para me deter, mas novamente me apareceram aquelas fitas brancas do céu e me puxaram para uma altura superior e pude sobrevoar por cima de suas cabeças. Eles chegaram a jogar suas lanças, mas não me atingiram, pois as fitas juntas formavam uma espécie de escudo protetor energizado, com a mesma energia azul que dissipou a névoa negra.
Quando ultrapassei essa barreira de soldados, percebi que a ponte era muito grande e era como uma fronteira, separando os dois mundos. As águas que passavam sob ela eram diferentes, pois até o meio da ponte tinha uma cor escura e fétida, do meio em diante às águas se tornavam quase transparente, tão límpida que se podia ver os peixinhos nadando.
Continuei o percurso e ao final daquela longa ponte cheguei a uma grande cidade, logo percebi que ganhava altura a cada momento que as construções iam aparecendo. Em determinados momentos eu estava sobrevoando prédios altíssimos, em outros momentos estava sobre prédios menores... E assim eu seguia, passando por toda a cidade e vislumbrando toda a beleza daquela experiência.
Quando de repente, adentrei uma grande sala branca, me senti aflito por estar preso, sobrevoava os móveis, mas meu corpo tocava em alguns objetos; tentava me esquivar para não tocar nas coisas, porém elas caíam e quebravam. Senti medo, pois fazia muito barulho os objetos quebrando no chão. Então, senti uma porta se abrindo... Tentei fugir... Procurei uma janela para sair, mas a única saída era aquela porta que se abria. E nesse momento, uma luz forte vinha lá de fora, ofuscando minha vista...
Então, apreensivo fiquei aguardando. Quando ela se abriu por completo apareceu um casal, não os conhecia, mas senti algo em meu coração. Eles estenderam as mãos para mim e pude segurá-las. Nesse momento tive a certeza que aquelas mãos eram de pessoas que eu conhecia. Eles me puxaram e eu passei pelo Portal da Vida, onde o casal estava. Então, nasci para o mundo real. E quando cheguei, para minha surpresa, encontrei aquela garotinha da bicicleta, que me deu um breve sorriso e disse: Cheguei primeiro que você.  Papai e mamãe estavam aflitos por causa de sua demora. Bem-vindo meu irmão!

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